terça-feira, 22 de maio de 2007

... não se muda já como soía.

Ontem deitei-me e pensei neste poema, não me lembrava de ele todo mas afluiu-me ao pensamento de tal forma... de tão verdade que é!



Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as máguas na lembrança,
E do bem, se houve algum, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.


Soneto de Luís Vaz de Camões

2 comentários:

Unknown disse...

Impressionante como um poema de Camões podia ter sido escrito hoje...

Renata Lucenna disse...

achei lindo o poema, mas acho que deveriam reescreve-lo colocando o nosso vocabulário de hoje; mas claro, sem perder esse precioso charme ..