quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Crimes Exemplares

«Começou a mexer o café com leite com a colherzinha. O líquido quase transbordava da chávena empurrado pelo movimento do utensílio de alumínio (...). Ouvia-se o barulho do metal contra o vidro. Tim, tim, tim, tim. E o café com leite girava, girava com uma cova no meio. Um maelstrom. E eu encontrava-me mesmo à frente. O café estava à pinha. O homem continuava a mexer, a mexer, imóvel, e sorria ao olhar-me. Senti uma coisa subir por mim acima. Fitei-o de tal maneira que se viu na obrigação de se explicar:
- O açúcar ainda não está derretido.
Para mo provar, bateu com a colher várias vezes no fundo do copo. Recomeçou a mexer metodicamente a beberagem, com a energia redobrada. Voltas e mais voltas, sem parar, eternamente. Voltas e mais voltas e mais voltas. E continuava a olhar para mim sorrindo. Então puxei da pistola e disparei.»


O emprego da morte pelos motivos mais disparatados, o mais assustador é que a maior parte, se não todas, são verídicas.


Crimes Exemplares de Max Aub, um livro que comprei a uns anos atrás e andou a passear pelo Bookcrossing... Apenas hoje percebi o que se passou com ele e posso dizer, já nem no bookcrossing se pode confiar... enfim!

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